fbpx

Creio que não sabes, mas, nesta cozinha, Aline, habita uma bailarina. Seu palco, a mesa rústica, suas coxias, os armários abarrotados de farinhas e açúcares, o proscênio provavelmente o forno que se alonga em sua função de aproximar-se um pouco mais da plateia que aguarda ansiosa pelo espetáculo.

Neste caso, um espetáculo com massas de baunilha e coberturas de buttercream, minuciosamente coreografado pelos movimentos da bailarina. Na cozinha da Aline há uma paz só conhecida por quem teve muitas incertezas e apesar disso, seguiu. Seguiu no descompasso do mercado farma em São Paulo e encontrou o ritmo suave – porém preciso e disciplinado – da confeitaria, mas agora no interior.

Em Avaré, na cozinha herdada do tio – um anjo glutão cuja história na Terra dá outras muitas prosas – e com cadernos de receitas de família, essa confeiteira que um dia foi bióloga achou seu lugar no mundo. Sua primeira receita, uma caçarola italiana. Sua esfiha e seu bauru hoje, iguaizinhos aos da vovó Adélia, cuja mão boa na cozinha deixou pra neta. Sua maior honra: fazer bolos tão saborosos para ocasiões de festa que materializem o gosto da celebração numa garfada.

 

 

 

Nesta cozinha, um fogão à lenha para se lembrar de que muito antes dela, outros cuidaram do fogo e que cuidar das panelas é um ofício sagrado. De um lado, peças simples, eletrodomésticos úteis, a parceira batedeira, o fogão convencional e dezenas de miudezas decorativas. Do outro, peças à mostra, espátulas e pratos, um misto de cenografia e utilidades da vida real para ficar tudo à mão, mas também fazer bem aos olhos e ao coração.

Quando a Aline fala sobre cozinhar para os outros, há um brilho que dança nos olhinhos de menina. Emociona-se ao dizer que comida é união e afeto e que não há coisa mais bonita do que ver gente à mesa partilhando da mesma substância que é o amor e o alimento. Nesta hora ela ouve a música das esferas e encontra o pulsar de seu propósito. Vale-se da metáfora dos açúcares para adoçar a vida que se movimenta ao seu redor: a própria e a de quem quer que ali se achegue para uma fatia de brownie ou um colherada de geleia de amora.



Nesta baila cozinheira habitam todas as doçuras do mundo, os sonhos de quem deixou-se guiar pelas panelas e aportou de volta ao palco onde cresceu. E ali, em meio a galinhas d’angola, um fogão, uma batedeira, a benção do tio e os livros de receita da vovóca, renasce e renova um compromisso com seu espetáculo pessoal, todos dias, uma fornada de baunilha de cada vez.

 

Solverwp- WordPress Theme and Plugin